Natação Artística

Nortágua: Ser treinador por paixão (artigo de Cristina Oliveira)

Hoje em dia damos valor a coisas certamente muito diferentes de tempos passados. A natação não é uma área onde qualquer um possa desenrascar. Assim como não nos atrevemos a operar ninguém também quem não tiver competências e ferramentas não devia ser treinador mesmo que tenha sido praticante! Porque esta é uma área para profissionais que devem zelar pela competência, evolução e dedicação!  Então o que move um treinador? A sua carreira? O que o faz gerir o seu trabalho? A época desportiva, o clube, a equipa de trabalho? Para alguns será apenas o dinheiro e os bens materiais os motores motivacionais essenciais para uma profissão, para um cargo, ou para uma função que ocupam numa determinada fase da vida. Os treinadores de natação não fogem à regra. Muitos sonham em serem os “maiores”, cópias dos seus ídolos, dar seguimento aos seus conhecimentos, mas são poucos os que entendem a verdadeira essência de ser treinador! O que os motiva e o que os guia dia a dia? Resumindo, o que os faz evoluir, crescer, e tentar serem melhores todos os dias? A minha resposta muito virada para a natação artística é Paixão, pela natação, pelo H2O/cloro, pelo treino, pela arte, pela beleza e pela vida! Um treinador apaixonado é um bom treinador. Sem paixão um treinador não atinge o sucesso. Sim aquela paixão tipo “amor à camisola” de estar num clube e num projeto. A de escolher atletas como se estivesse a escolher os seus próprios filhos. O mudar os procedimentos e regulamentos normais do clube e da estrutura em função daquilo que se acredita ser o mais importante. A paixão aplicada no dia a dia do trabalho, de definir objetivos seja um plano anual, mensal, semanal e diário, de organizar uma unidade de treino, um exercício, uma música, um momento de equipa, de entender o grupo, o nadador (a) jovem/criança/adolescente. Viver um treino como se fosse o último da sua carreira e com a mesma paixão com que se fosse paixão por um homem ou mulher. A Paixão de ser diferente e não igual aos outros. Superar com paixão o desalento de estar a trabalhar aos fins de semana em competições quando o que se queria mesmo era estar a descansar ou a passear. Concretizar objetivos ou a satisfação de alcançar uma vitória por exemplo, podem ser os motores, mas só alcançamos a essência da paixão quando fazemos algo mesmo sem sermos remunerados ou muito mal remunerados. E infelizmente é graças a pessoas apaixonadas que continuamos a ter em Portugal modalidades desportivas menos conhecidas e/ou com um número baixo de praticantes.

Na natação artística em Portugal pelas suas caraterísticas e dificuldades, pelo número cada vez menor de clubes e praticantes, o treinador(a) tem de ser um apaixonado (a) pela vida! Ele tem um trabalho muito diversificado, difícil numa modalidade em que a Perfeição é o limite! Sim, eu estou de acordo com a mudança do nome porque é uma natação de arte e técnica corporal apesar de sincronizada ser um hábito, mas com a evolução dos tempos sincronizar é apenas um item desta modalidade! Um treinador de natação artística precisa de ser um bom treinador de natação, ter muitos conhecimentos de ginástica acrobática, ser um bom preparador físico, ter bom “ouvido musical” e ser um bom coreógrafo. E como é uma modalidade avaliada por um júri na execução dificuldade, impressão artística o fator motivacional é determinante a qualquer nível competitivo, portanto quem quiser ser treinador também tem de ter formação em psicologia! E sem paixão dificilmente conseguem treinar nesta natação porque é ela quem aguenta os maus momentos e faz superar as dificuldades. E são muitos nos últimos anos que se cansam e desistem de trabalhar nela. Tem valido uma nova geração de ex nadadoras que ainda tem a chama da “Paixão” e também devido às contingências de falta de emprego no nosso País têm ajudado a manter clubes e nadadoras na modalidade. Nos dias que correm, em que um jovem tem tudo sem lutar, fazem poucos sacrifícios e na maioria são personalidades fracas que desistem à primeira contrariedade só transmitindo “paixão” é que se consegue ter nadadores(as). Sim porque quando o que planeamos não corre bem devemos ser pacientes e evitar culpar os outros porque essa é a forma mais cobarde de enfrentar as nossas inseguranças! Reconhecer as falhas e tentar programar estudando alternativas, explorar novas técnicas e modificando as nossas atitudes tem de ser uma obra apaixonada! Quem planta colhe, mas se deixarmos ervas daninhas no caminho não vamos ser grandes profissionais. Se formos treinadores apaixonados o principal objetivo é a felicidade. Lidamos com jovens que estão na modalidade para ocuparem os tempos livres e por esta razão devemos pensar que devem fazer treinos e ir a competições felizes.  Somos todos iguais, mas todos diferentes ao mesmo tempo. Quando um treinador atua por paixão tem nadadoras que tentam dar o máximo e não apenas ganhar. Sim olhar apenas para o umbigo é um grande problema para um treinador. Dar valor ao trabalho dos outros e trabalhar em equipa são qualidades que devem existir desde os primeiros até aos últimos treinos. Não ganhamos sempre e o tempo de vitória é muito breve e passageiro o que fica são as alegrias, a concretização e o reconhecimento dum trabalho dedicado.