José Freitas
Águas Abertas
Época desportiva
20212022

José Freitas e a Travessia do Porto a Nado: “Acompanhavam a pé, de bicicleta ou de carro. As pontes estavam cheias de gente”

Foi nas águas do Rio Douro que José Freitas, então nadador do Belenenses, preparou o seu ataque ao Estreito de Gibraltar, mítica travessia em que inscreveu o seu nome em 1962 com o tempo recorde de 3h04 minutos que perdurou ao longo de 45 anos.

Recuemos aos anos 50 do século passado. José Freitas cumpriu, por três vezes, a Travessia do Porto a Nado: garantiu dois segundos lugares e um terceiro lugar.

A Travessia do Porto a Nado é a mais antiga e emblemática das provas realizadas no Rio Douro. A sua primeira edição realizou-se em 1916 e a última ocorreu em 1979. Com uma distância de 8.300 metros, a prova iniciava-se no Esteiro de Campanhã e a meta estava localizada na Cantareira, junto à foz do rio Douro.

Em 1960, em preparação para a Travessia do Estreito de Gibraltar, José Freitas realizou uma longa travessia no rio Douro, desde Crestuma até à Ribeira do Porto. Concluiu com êxito.

No ano seguinte, o esforço foi redobrado na Travessia entre o Farol da Boa Nova, em Leça da Palmeira, e a Ribeira do Porto, não só pela corrente contrária, como também pelas dificuldades acrescidas por grande parte da prova ser realizada em mar.     

José Freitas, que viria a ser apelidado como o “golfinho” de Gibraltar, não só concluiu a prova, como surpreendeu o seu timoneiro. “O ‘Duque’ da Ribeira pôs as mãos à cabeça com o tempo que consegui, menos 40 minutos do que o obtido pelo Baptista Pereira no mesmo percurso”, afirma, acrescentando que o “Duque”, que o acompanhava ao longo da travessia à frente com um barco, “agarrou-se ao Santo António dele no final da prova, o santo milagreiro do Duque”.

O ex-nadador explica que foi determinante “o estudo estratégico e o ritmo de braçada” que impôs ao longo da prova, mas a principal diferença relativamente à performance de Baptista Pereira – bateu o recorde mundial da Travessia do Canal da Mancha em 1954 –, foi outra: “O Baptista Pereira fazia muitas paragens ao longo da prova para se abastecer. Eu apenas fiz uma, que foi na Afurada. Comi frutas cristalizadas e bebi cálices de Vinho do Porto que me deu forças para chegar à Ribeira do Porto. Acabei esgotado”.

José Freitas não esquece “o apoio às travessias de Manuel Ramos”, então vice-governador Civil do Porto e chefe de Redação do Jornal de Notícias (mais tarde Diretor da mesma publicação), bem como não lhe sai da memória algumas imagens do público: “Acompanhavam a pé, de bicicleta ou de carro. As pontes estavam cheias de gente. Nunca mais me esqueci dessas imagens. De todas as que participei, a Travessia do Porto a Nado era a prova com mais público”.

Além desses momentos que considera ser “saudosos como as provas no Rio Tejo”, o “golfinho” de Gibraltar, de 90 anos, vê na Douro Bridges Porto & Gaia Open Water “uma oportunidade de voltar a ver o movimento das pessoas entre Porto e Vila Nova de Gaia”.

“O regresso das provas ao Rio Douro, que nunca deviam ter terminado, surge numa altura de grande movimento nas águas abertas, vem por isso numa fase muito boa”, frisa José Freitas, acreditando que a Douro Bridges Porto & Gaia Open Water “tem todas as condições para crescer, de ter muitos atletas a participar” e, para isso, “dependerá muito dos apoios que a organização conseguir garantir”.

José Freitas já confirmou à organização que irá estar presente para assistir ao evento.

A Douro Bridges Porto & Gaia Open Water vai realizar-se no dia 4 de setembro e terá a sua partida na Ribeira do Porto com chegada à Douro Marina, em Vila Nova de Gaia, numa distância aproximada de quatro quilómetros.

As inscrições estão abertas desde 15 de julho.

O evento, que integra o Circuito Nacional de Águas Abertas e decorre sob a égide da Federação Portuguesa de Natação, será organizado pela ANNP em parceria com os municípios do Porto e Vila Nova de Gaia.

O anúncio da realização do evento teve eco em dezenas de órgãos de Comunicação Social.